Escolas do 2º e 3º Ciclo do Ensino Básico

Artigo/reportagem

Palavras-chave: arquitetura bioclimática | sustentabilidade

Telhados verdes
Colégio Valsassina (LISBOA)

Telhados Verdes ganham terreno nas cidades: são pequenos pulmões para grandes cidades

Os telhados verdes estão a ganhar terreno no mundo e em Portugal, com vista a obter cidades sustentáveis. Uma cobertura normal pode aquecer até aos 60ºC, enquanto um relvado chega apenas aos 25ºC. Estas coberturas com jardins reduzem o calor e o consumo energético, sendo por isso uma alternativa sustentável perante os telhados convencionais. E ainda absorvem a água das chuvas. Contudo, os custos são ainda elevados o que está a limitar a expansão destes telhados pelas cidades. Em Portugal, exemplos como a ETAR de Alcântara, a Gulbenkian ou o Jardim das Oliveiras no Centro Cultural de Belém são projetos bem-sucedidos fornecendo o mote para o caminho a seguir rumo à sustentabilidade.

Um Telhado verde é uma técnica de arquitetura que consiste na aplicação e uso de solo e vegetação sobre uma camada impermeável, geralmente instalada na cobertura de edifícios. A utilização de telhados verdes é uma alternativa sustentável perante os telhados convencionais. As suas principais vantagens são: facilitar a drenagem (através da absorção de água da chuva, proporcionando um melhor isolamento), fornecer isolamento acústico e térmico e produzir um diferencial estético e ambiental na edificação. Além disso, ajudam a diminuir a temperatura do ar urbano e atenua o efeito de ilha de calor.

De acordo com o arquiteto Luís Silva, responsável pelo Departamento de Urbanismo de uma empresa de engenharia civil da área da grande Lisboa, “os telhados verdes são utilizados para reduzir o aquecimento, possibilitar a criação de um habitat natural, contribuem para a filtração de poluentes e de dióxido de carbono, e ajudam a isolar a acústica de um edifício”. Uma cobertura normal pode aquecer até aos 60ºC, enquanto um relvado chega apenas aos 25ºC, a diferença reflete-se na diminuição do uso de ar condicionado, na fatura energética (redução de custos entre 20 a 30%) e na pegada ecológica. De acordo com este arquiteto “os telhados convencionais são feitos de betão armado, telhas cerâmicas, telhas metálicas, ou fibrocimento, os quais acumulam calor e transferem-no para dentro do prédio. No telhado verde a cobertura vegetal encarrega-se de dissipar ou consumir esta energia pela evapotranspiração e pela fotossíntese, reduzindo o calor transferido para o interior.”

Os elementos presentes num telhado verde são, uma camada impermeável, um sistema de drenagem eficiente, permitindo uma boa retenção da água, e uma escolha adequada da vegetação (dando preferência a plantas adequadas ao clima da região).

A grande desvantagem é a nível económico. A diferença de preços para os telhados convencionais deve-se essencialmente à quantidade de materiais envolvidos e, por vezes, à complexidade de instalação e/ou à escassez de mão-de-obra especializada. Para o arquiteto Thiago Moretti, do Atelier de Isay Weinfeld situado em São Paulo, Brasil, “deve-se avaliar cada caso, contabilizando quanto se irá poupar em recursos energéticos e ambientais ao longo da vida do edifício”.
Estes dois arquitetos são unânimes, a “principal desvantagem dos telhados verdes é o custo inicial elevado”. Luís Silva realça que “um sistema de telhado verde pode custar entre 100 a 200 € por metro quadrado dependendo do tipo de telhado, da estrutura do edifício, e das plantas utilizadas”. Além disso, “há ainda a ter em atenção que alguns edifícios não conseguem suportar a carga do substrato e da vegetação”. Também não se pode pôr de lado outra questão pois “a sociedade em geral tem a ideia que esta solução contribui para o aumenta do aparecimento de insetos”.

Contudo, esclarece Luís Silva, “estamos a falar de moscas, borboletas, besouros, entre outros animais essenciais à vida de outros seres, como certas aves, o que permite o estabelecimento do espaço vital nos ecossistemas urbanos”.
A implantação de jardins nos telhados das edificações é já relativamente popular nos EUA e nos países Escandinavos e Alemanha e, aos poucos, está a conquistar o resto da Europa e a América Latina. Bons exemplos não faltam. Para Thiago Moretti “o California Academy of Science do Arquiteto Renzo Piano é um bom exemplo, pois para além de funcionar combinado com outros recursos de eficiência energética (ventilação e iluminação natural, tratamento e aproveitamento das águas, etc..), tirou partido do telhado para criar uma imagem forte para o projecto".

    (À esquerda) Atualmente, um dos exemplos mais emblemáticos da utilização de coberturas verdes encontra-se nos EUA, no California Academy of Science. Fonte: http://www.seferin.com.br/pt-br/blog/renzo-piano (À direita). Instalação de um telhado verde na nova ETAR de Alcântara.
 

Luís Silva considera que, “estes pequenos pulmões podem mesmo servir como reguladores térmicos da cidade, podendo reduzir dois a três graus centígrados na temperatura das cidades. Sendo certo que não substituem os jardins, ajudam a diminuir o efeito de estufa”. Diz ainda que no “caso particular de Lisboa, as coberturas são cada vez mais importantes e ganham uma importância ainda maior a nível estético”. No entanto, ainda não há um consenso alargado. Para muitos esta solução é desajustada para Lisboa e dirige-se mais para casas de campo devido aos cuidados de manutenção e consumo em água. Mas, de acordo com Luís Silva “já há coberturas verdes em Lisboa sem grande manutenção (…) e no novo Plano Diretor Municipal da cidade, um dos artigos contempla a descriminação positiva para estas soluções".

Os arquitetos chamam-lhe a quinta fachada dos edifícios e a tendência está a ganhar adeptos, a nível mundial e também em Lisboa. Os telhados e coberturas das casas da capital começam a ser, também, espaços verdes. Por motivos arquiteturais, energéticos, ambientais e estéticos, colocar um relvado ou um jardim no topo das habitações começa a fazer sentido. Contudo, apesar dos evidentes benefícios constata-se que o (ainda) elevado investimento necessário para construir coberturas ajardinadas é um dos principais entraves contra esta solução paisagística. Em Portugal, exemplos como a nova ETAR de Alcântara, “a Gulbenkian ou o Jardim das Oliveiras no Centro Cultural de Belém são projetos bem-sucedidos que mostram ser este o caminho a seguir" conclui Luís Silva.

Agradecimentos. Este trabalho não teria sido possível sem a colaboração dos arquitetos Luís Silva e Thiago Moretti que, gentilmente, nos concederam uma entrevista.

Duarte Mendes da Silva, Francisco Águas e Martim Nabais